Um dos bairros mais tradicionais da cidade, o Bairro Triângulo surgiu nas proximidades da linha férrea da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, sendo tangenciado pelo Rio Madeira e cortado por igarapés como o Bate-Estacas, Grande e Lavadeira. O nome foi originado de um triângulo de reversão da ferrovia, possibilitando a realização de manobras dos trens nas proximidades do bairro.
Localiza-se na zona sul da cidade, delimitado pelos bairros Baixa da União e Militar, tendo da sua formação iniciada em 1914, com a construção de casas de taipa pelos operários da ferrovia. Tempos depois, surgiram as primeiras casas de alvenaria na região, também obedecendo as normas de segurança da REFESA. Somente após 1972, com o traçado definitivo dos trilhos da EFMM foi que as edificações começaram a se assentar próximas à linha férrea.
O bairro também sedia o famoso Cemitério da Candelária, patrimônio histórico
Em 1950 construiu-se uma vila de casas, denominada Vila da Candelária, destinada a servir de moradia aos ferroviários. A vila hoje sedia um complexo de restaurantes, dedicados à gastronomia rondoniense.
Em 1972, as locomotivas da Estrada de Ferro Madeira Mamoré deixaram de circular pela ferrovia, gerando tristeza e comoção por aqueles que tinham sua história ligada à da ferrovia, bem como por boa parte dos moradores da cidade de Porto Velho. Todavia, em 1979, deu-se início à manutenção dos dormentes e trilhos da EFMM, até que em meados de 1981 as locomotivas voltaram a operar para fins turísticos, resgatando a alegria da história em movimento sob os trilhos da Madeira Mamoré.
Recentemente, o bairro foi palco de questões ambientais, em virtude do desmoronamento de parte dos taludes do rio Madeira, comprometendo centenas de moradores. O fato originou a criação da Associação dos Remanescentes das Famílias Tradicionais do Triângulo. Foram realizadas obras de contenção das margens do rio por parte da Santo Antônio Energia, e muitas famílias foram realocadas em apartamentos no condomínio Orgulho do Madeira, na zona leste da cidade.
Além disto, o Triângulo teve parte de sua área inundada com a cheia histórica de 2014, o que causou diversos transtornos na região com dezenas de famílias desalojadas e que tiveram de ser remanejadas para outras regiões da cidade.
O bairro inspirou sambistas à comporem sobre suas noites boêmias, como retratou João Henrique “Manga Rosa”, Ernesto de Melo e Adaídes Santos, o Dadá. Além disto, diversas manifestações culturais surgidas neste bairro são mantidas por seus moradores, como a folguedo de quadrilha criada pelo ferroviário Joventino, que ensaiava em um terreiro cercado de pés de maracujá, os quais desabrochavam suas flores no mês de junho, dando, então, o nome de batismo da maior mostra de quadrilhas da região norte, o Flor do Maracujá.
A região do Triângulo sediou a residência de diversas famílias oriundas do Caribe, como os Shockness, Julien e Dennis. Também foi casa de figuras públicas, como a Dona Filó, parteira que acumulou ao longo de sua devoção ao trabalho (já que não cobrava por seus serviços) a realização de mais de 500 partos. Foi berço, também, de grandes personalidades da cidade, como Abgail Meirelles, esposa de Francisco Meirelles, sertanista; dos escritores William Martins Haverly e Nilza Menezes.
Destaca-se, também, a manifestação cultural denominada “O Triângulo Não Morreu”, preservada pelo carnavalesmo Armando Holanda, o “Periquito”.
No ano de 2007 a área do bairro onde estava implantada a Estrada de Ferro foi inserida na portaria nº 231, de 13 de julho de 2007, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, estabelecendo regras sobre a sua vegetação e preservação.
Resumo do livro: Os Bairros na História de Porto Velho
Autora: Yêdda Pinheiro Borzacov
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